quinta-feira, 24 de julho de 2014

Resposta ao tempo


Eu não gosto de usar esse espaço pra resmungar ou alimentar coisas negativas. Mas é muito bom saber que cada um de nós ainda tem a liberdade pra usar isso aqui como quiser. Seja pra divulgar um trabalho, levantar suas bandeiras, fofocar ou, simplesmente, espantar o tédio.
Gosto de estar aqui com minhas pessoas queridas - se não fossem, não estariam aqui dividindo e compartilhando esse espaço comigo. 

Os grandes amigos. 
Os amigos do peito, que estão distantes. 
Aqueles que são parceiros do dia a dia nessa minha caminhada. 
Outros, que já foram parceiros de alguma forma e continuam sendo queridos. 
Aqueles que eu nunca mais vi, mas que não perdi o contato; justamente porque existe a rede social. 
Até mesmo a família, que nem sempre pode estar presente quando quer. Os tempos são outros e a gente se vira como pode pra ser feliz.

Gosto desta troca. De, pelo menos, ter uma ideia de como estão as pessoas. O que estão fazendo. No que acreditam. No que não acreditam mais. É a minha forma de manter certos laços. Dizem que a maioria mente. Todos parecem felizes e satisfeitos. Ok. É a verdade de cada um. Lá no fundo, todo mundo gostaria de parecer melhor do que está. As pessoas fazem isso no "ao vivo e a cores", também. 

O que me importa, mesmo, é ter na minha vida o que realmente vale a pena e, o que não vale, "a vida" vai dando um jeito de levar pra beeem longe. Portanto, meus queridos, posso não ser uma amiga muito melosa e cheia de demonstrações diárias, posso ter esquecido datas e eventos importantes, sei que estou em falta com muita gente e tenho um monte de mensagens pra responder, mas não é descaso ou desprezo. Vocês, que estão aqui, são especiais e importantes pra mim. Nunca se esqueçam disso. 

Sei que não precisava justificar nada pra quem realmente me conhece. Mas, vou aproveitar esse espaço pra dar notícias pra todo mundo de uma vez e, depois, vou pondo a correspondência em dia.  

Estou vivendo uma fase que está exigindo muito de mim. Boa parte de vocês sabe do enfisema pulmonar que vem arrasando com a vida da minha mãe. Ela está muito debilitada e depende de mim para praticamente tudo. Estou com outra "criança" em casa, além do Theo, que dispensa comentários. O Warde tem me ajudado demais. Tem sido fundamental para que eu não esmoreça. Mas, certas coisas não há como dividir.

Precisei ter uma atitude radical e tirar todo e qualquer cigarro que estivesse com ela. O pneumologista disse que ela praticamente não tem mais pulmão. E, embora a situação já fosse bastante grave, ela não conseguia parar de fumar completamente. Não dava mais pra deixar pela força de vontade dela. Tive que interferir. Óbvio que está sendo uma luta. Mesmo usando os adesivos de nicotina, os sintomas da abstinência estão sendo horríveis. Porque ela fumou muito, durante 40 anos. 

Ela tem alucinações, confusão mental, treme assustadoramente, está muito agitada, fala a noite inteira, anda pela casa, não consegue se alimentar direito, está agressiva, tem mudanças bruscas de humor e não consegue permanecer em pé por muito tempo.  

Precisa de acompanhamento 24 horas. Alguns dias preciso dar comida na boca. Controlo todos os horários, os medicamentos, levo ao banheiro. Só no banho ela reluta e não deixa eu ajudar. Um certo pudor compreensível.  Como se fosse o último degrau pra declarar a incapacidade. Eu entendo e respeito. Fico atenta, mas não interfiro. 

Não tem sido nada fácil conciliar todos esses cuidados com o restante das minhas responsabilidades. Tá pesado. Muitos dias tenho a sensação de que não vou dar conta. O Theo já me consumia quase que completamente. Com isso, algumas coisas vão ficando pra depois. Infelizmente, o meu trabalho é uma delas. Nesse momento, não há outra maneira. Se tivesse um trabalho estável, poderia até contar com a ajuda de uma cuidadora. Mas, agora, essa não é a minha realidade. 

Às vezes, precisamos aceitar as circunstâncias para sofrer menos. Se ficasse apenas me lamentando seria ainda mais penoso e desgastante. Claro que tenho meus momentos de revolta. Mas, estou enfrentando. Vivendo um dia de cada vez. E cada dia é uma "surpresa"... 

Vou me dividindo como posso. Tentando compensar um pouquinho aqui, um pouquinho ali essa minha ausência para com o meu marido, o meu filho... e comigo mesma. Afinal, a vida não para. A vida segue, independente da nossa vontade. 

Sei lá de onde vem; mas, bem lá no fundo, ouço uma voz que me diz "Continue a nadar!! Continue a nadar!! Continue a nadar!!".

Saudades.