domingo, 30 de outubro de 2016

O coisa mais caprichosa essa vida, viu!

É, minha amiga... Voce falando de check up e eu estou tentando ir ao ginecologista. Não faço exames desde que o bebê nasceu. 😔
Ando pensando demais nessas rotinas que vivemos.

As crianças foram muito desejadas. Ok. E precisam de todo suporte. Ok. Exigem muito de nós. Ok. Mas precisa sobrar alguma coisa que seja só nossa! Não é justo. Parece interminável tudo isso. Eterno. Mas não é! Eles vão crescer e não vão precisar tanto de nós. E ficamos como? 

É. Não se pode descuidar da individualidade. Mesmo sendo esse "polvo mutante" com 20 braços, quase insuficientes, para equilibrar todos os pratos girando lá no alto. 

Eu tenho - infelizmente ainda com muita insegurança e culpa - tentado criar momentos meus. Nunca imaginei vivenciar isso. Parece que tudo conspira para que a gente não faça. E, além de tantas variáveis e revezes, tem o tal de "estado de espírito". 

Vc se organiza, esbarra em tantas contrariedades, luta pra fazer acontecer e, quando consegue aquela meia hora... nem sempre está com disposição para aproveitá-la. De bom humor, leve, descansada... 

E aí? Deixa passar? Sabe-se lá quando vai conseguir de novo! Dá um jeito e tira disso o melhor que conseguir!

O coisa mais caprichosa essa vida, viu!

sexta-feira, 18 de março de 2016

Os filhos esquecerão

O tempo, pouco a pouco, me liberará da extenuante fadiga de ter filhos pequenos, das noites sem dormir e dos dias sem repouso. Das mãos gordinhas que não param de me agarrar, que me escalam pelas costas, que me pegam, que me buscam sem cuidados, nem vacilos. Do peso que enche meus braços e curva minhas costas. Das vezes que me chamam e não permitem atrasos nem esperas.

O tempo me devolverá a folga aos domingos e as chamadas sem interrupções, o privilégio e o medo da solidão. Acelerará, talvez, o peso da responsabilidade que as vezes me aperta o diafragma. O tempo, certamente e inexoravelmente esfriará outra vez a minha cama, que agora está aquecida de corpos pequenos e respirações rápidas. Esvaziará os olhos de meus filhos, que agora transbordam de um amor poderoso e incontrolável. Tirará de seus lábios meu nome gritado e cantado, chorado e pronunciado cem mil vezes ao dia.

Cancelará, pouco a pouco ou de repente, a confiança absoluta que nos faz um corpo único, com o mesmo cheiro, acostumados a mesclar nossos estados de ânimo, o espaço, o ar que respiramos.

Como um rio que escava seu leito, o tempo perigará a confiança que seus olhos têm em mim, como ser onipotente, capaz de parar o vento e acalmar o mar, consertar o inconsertável e curar o incurável. Deixarão de me pedir ajuda, porque já não acreditarão mais que em algum caso eu possa salvá-los. Pararão de me imitar, porque não desejarão parecer-se muito a mim. Deixarão de preferir minha companhia em comparação com os demais (e vejo, isto tem que acontecer!).

Se esfumaçarão as paixões, as birras e os ciúmes, o amor e o medo. Se apagarão os ecos das risadas e das canções, as sonecas e os “era uma vez… Com o passar do tempo, meus filhos descobrirão que tenho muitos defeitos e se eu tiver sorte, me perdoarão por alguns deles.

Sábio e cínico, o tempo trará consigo o obvio.

Eles esquecerão, mas ainda assim eu não esquecerei. As cosquinhas e os “corre-corre”, os beijos nos olhos e os choros que de repente param com um abraço, as viagens e as brincadeiras, as caminhadas e a febre alta, as festas, as papinhas, as carícias enquanto adormecíamos lentamente.

Meus filhos esquecerão que os amamentei, que os balancei durante horas, que os levei nos braços e ás vezes pelas mãos. Que dei de comer e consolei, que os levantei depois de cem caídas.Esquecerão que dormiram sobre meu peito de dia e de noite, que houve um dia que me necessitaram tanto, como o ar que respiram.

Esquecerão, porque é assim mesmo, porque isto é o que o tempo escolhe. E eu, eu terei que aprender a lembrar de tudo para eles, com ternura e sem arrependimentos, incondicionalmente. E que o tempo, astuto e indiferente, seja amável com estes pais que não querem esquecer.”

(Autor desconhecido)

domingo, 27 de dezembro de 2015

Aos amigos...

Embora a gente não deva esquecer de celebrar a vida e as pessoas que amamos, que são parte da nossa história, o Natal é uma data, um dia ainda mais específico em que podemos parar pra fazer isso de uma forma mais consciente.

Eu gostaria de aproveitar este canal para chegar também até os mais distantes. Lembrar que as pessoas que estão aqui, como amigos meus nessa rede social, estão aqui porque de algum modo fazem parte da minha vida. De algum momento dela. E permanecem porque são queridos. Isso já vale muito.

Ao contrário do que se ouve por aí, que deixamos de encontrar as pessoas na vida real para vivermos uma amizade virtual e blá blá blá... eu valorizo todos os contatos que tenho. Mesmo aqueles que são exclusivamente virtuais. E que muitas vezes não tem nada de superficiais. Vivemos um outro tempo, meus queridos. Hipocrisia é ficar determinando regras pra isso e aquilo. Regras que nem cabem mais aos dias de hoje.

Óbvio que fico muito frustrada por não ver as pessoas que eu gosto sempre que eu quero. Muitas vezes o ano passa e eu não consegui rever quem eu tanto queria. Infelizmente essa é uma realidade. Faltam horas em nossos dias para tudo que deveria ser feito. Mas, ao invés de me martirizar por não dar conta de tudo, resolvi aceitar certas coisas como elas são.

Não dá pra encontrar. Posso telefonar. Escrever. Acompanhar mesmo que de longe a vida de quem eu gosto. Ótimo. Chega de culpa. É o que temos pra hoje!! Podemos sim ter amizades virtuais que também sejam de qualidade. Tanta gente que se vê sempre, pode se tocar, se olhar diretamente nos olhos e não tem sinceridade nisso.

Perdemos boas oportunidades por mantermos "uma cabeça do século passado". Vivemos uma outra realidade hoje. Chega de se apegar em bobagens.

Viva a amizade!!! Independente de como ela se desdobra. O importante é se ela ultrapassa barreiras e sobrevive à distância e ao tempo escasso que temos. Vale o que nos faz bem. O resto é silêncio.

Espero que o Natal tenha sido muito bem comemorado!!! Grande beijo e um abraço bem apertado em cada um de vocês...

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

É preciso AMAR as PESSOAS como se não houvesse amanhã.

ASSISTAM.
PENSEM A RESPEITO.

REFLITAM.

SE POSICIONEM EM RELAÇÃO AOS SEUS FILHOS.

Seja qual for o SEU caminho. Seja qual for a sua OPINIÃO. Mas PARE de FINGIR que não está acontecendo NADA.

INFORMAÇÃO pode salvar a VIDA de muita gente. CHEGA de viver na ignorância. Ainda é um TABU muito grande, mas já estamos dando passos importantes para que, primeiro, o ser humano conheça mais e melhor a si mesmo. Ao invés, de seguir, primeiro apontando o dedo para esse ou aquele e julgando, como se com suas crenças e credos fossem donos da VERDADE. Chega de disseminar o PRECONCEITO.
Como já disse o poeta: "É preciso AMAR as PESSOAS como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra PENSAR... Na verdade não há".

[Não "há" o quê?

Não há sentido em crer que amanhã continuará tudo igual;
não há sentido em pensar que o amanhã será o mesmo que hoje;
Não há sentido em pensar, que na verdade o amanhã virá.
Hoje, é hoje.
Não há amanhã.
Não há chances e oportunidades para o futuro, existe apenas o AGORA.
A vida, as opções, caminhos (do amor, como por exemplo) e do perdão, existem HOJE.]

(fonte da interpretação desse trecho da música:
http://olivrodosdias-interpretacao.blogspot.com.br/2012/08/interpretacao-pais-e-filhos.html?m=1)


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Resposta ao tempo


Eu não gosto de usar esse espaço pra resmungar ou alimentar coisas negativas. Mas é muito bom saber que cada um de nós ainda tem a liberdade pra usar isso aqui como quiser. Seja pra divulgar um trabalho, levantar suas bandeiras, fofocar ou, simplesmente, espantar o tédio.
Gosto de estar aqui com minhas pessoas queridas - se não fossem, não estariam aqui dividindo e compartilhando esse espaço comigo. 

Os grandes amigos. 
Os amigos do peito, que estão distantes. 
Aqueles que são parceiros do dia a dia nessa minha caminhada. 
Outros, que já foram parceiros de alguma forma e continuam sendo queridos. 
Aqueles que eu nunca mais vi, mas que não perdi o contato; justamente porque existe a rede social. 
Até mesmo a família, que nem sempre pode estar presente quando quer. Os tempos são outros e a gente se vira como pode pra ser feliz.

Gosto desta troca. De, pelo menos, ter uma ideia de como estão as pessoas. O que estão fazendo. No que acreditam. No que não acreditam mais. É a minha forma de manter certos laços. Dizem que a maioria mente. Todos parecem felizes e satisfeitos. Ok. É a verdade de cada um. Lá no fundo, todo mundo gostaria de parecer melhor do que está. As pessoas fazem isso no "ao vivo e a cores", também. 

O que me importa, mesmo, é ter na minha vida o que realmente vale a pena e, o que não vale, "a vida" vai dando um jeito de levar pra beeem longe. Portanto, meus queridos, posso não ser uma amiga muito melosa e cheia de demonstrações diárias, posso ter esquecido datas e eventos importantes, sei que estou em falta com muita gente e tenho um monte de mensagens pra responder, mas não é descaso ou desprezo. Vocês, que estão aqui, são especiais e importantes pra mim. Nunca se esqueçam disso. 

Sei que não precisava justificar nada pra quem realmente me conhece. Mas, vou aproveitar esse espaço pra dar notícias pra todo mundo de uma vez e, depois, vou pondo a correspondência em dia.  

Estou vivendo uma fase que está exigindo muito de mim. Boa parte de vocês sabe do enfisema pulmonar que vem arrasando com a vida da minha mãe. Ela está muito debilitada e depende de mim para praticamente tudo. Estou com outra "criança" em casa, além do Theo, que dispensa comentários. O Warde tem me ajudado demais. Tem sido fundamental para que eu não esmoreça. Mas, certas coisas não há como dividir.

Precisei ter uma atitude radical e tirar todo e qualquer cigarro que estivesse com ela. O pneumologista disse que ela praticamente não tem mais pulmão. E, embora a situação já fosse bastante grave, ela não conseguia parar de fumar completamente. Não dava mais pra deixar pela força de vontade dela. Tive que interferir. Óbvio que está sendo uma luta. Mesmo usando os adesivos de nicotina, os sintomas da abstinência estão sendo horríveis. Porque ela fumou muito, durante 40 anos. 

Ela tem alucinações, confusão mental, treme assustadoramente, está muito agitada, fala a noite inteira, anda pela casa, não consegue se alimentar direito, está agressiva, tem mudanças bruscas de humor e não consegue permanecer em pé por muito tempo.  

Precisa de acompanhamento 24 horas. Alguns dias preciso dar comida na boca. Controlo todos os horários, os medicamentos, levo ao banheiro. Só no banho ela reluta e não deixa eu ajudar. Um certo pudor compreensível.  Como se fosse o último degrau pra declarar a incapacidade. Eu entendo e respeito. Fico atenta, mas não interfiro. 

Não tem sido nada fácil conciliar todos esses cuidados com o restante das minhas responsabilidades. Tá pesado. Muitos dias tenho a sensação de que não vou dar conta. O Theo já me consumia quase que completamente. Com isso, algumas coisas vão ficando pra depois. Infelizmente, o meu trabalho é uma delas. Nesse momento, não há outra maneira. Se tivesse um trabalho estável, poderia até contar com a ajuda de uma cuidadora. Mas, agora, essa não é a minha realidade. 

Às vezes, precisamos aceitar as circunstâncias para sofrer menos. Se ficasse apenas me lamentando seria ainda mais penoso e desgastante. Claro que tenho meus momentos de revolta. Mas, estou enfrentando. Vivendo um dia de cada vez. E cada dia é uma "surpresa"... 

Vou me dividindo como posso. Tentando compensar um pouquinho aqui, um pouquinho ali essa minha ausência para com o meu marido, o meu filho... e comigo mesma. Afinal, a vida não para. A vida segue, independente da nossa vontade. 

Sei lá de onde vem; mas, bem lá no fundo, ouço uma voz que me diz "Continue a nadar!! Continue a nadar!! Continue a nadar!!".

Saudades.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Por quê correr esse risco?

Acho que a cesárea deve ser feita como última alternativa. Quando não há possibilidade de um parto normal. Quando a mãe ou o bebê correm algum tipo de risco.
Acho absurda e irresponsável a prática de uma grande maioria de médicos e maternidades - que mais parecem hotéis de luxo onde mães desembarcam de "mala e cuia" com horário marcado para se "hospedar". Pensando apenas em sua comodidade. Por medo
de enfrentar o trabalho de parto. Medo de sentir dor. Sem se dar conta que fazendo uma césarea DESNECESSÁRIA estarão bastante fragilizadas (em função dos pontos, dores e a falta de mobilidade) no momento em que mais vão precisar de tranquilidade para começarem a aprender a lidar com seus bebês. A cesárea foi banalizada.
É óbvio que ninguém é "menos mãe" por ter escolhido fazer uma cesárea. Mas é preciso refletir seriamente sobre os riscos de uma intervenção cirúrgica e, principalmente, por que a máquina humana tem suas razões de "funcionamento" onde tudo se encaixa. Quais serão as reais consequências para o bebê ao ir contra a natureza sem que isso seja absolutamente necessário?
O melhor parto é o que seja bom para mãe e bebê, o importante é que ele nasça com saúde e que o parto tenha um resultado feliz. Mas realizar uma cesárea antes do início do trabalho de parto é uma prática perigosa, na maioria dos casos irá nascer um bebê prematuro. Sendo uma cirurgia de médio porte, a cesárea oferece todos os riscos de uma cirurgia, seja durante a operação em si, durante o período de analgesia ou no pós-operatório.  
Às vezes optar pela cesariana é uma questão de vida ou morte, mãe ou bebê podem estar em perigo e é preciso fazer o parto rápido. Aí, realmente não há escolha. É necessário correr o risco e assumir as consequências. 
Algumas "modernidades" acabam desrespeitando a natureza do ser humano. Falsas facilidades. O que era pra ser apenas uma exceção em casos de emergência, acaba se tornando um procedimento padrão. Infelizmente.

http://revistapaisefilhos.com.br/revista/edicoes/Cesárea: 9 razões para desmarcar

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Apenas ficção

ou terça-feira lá em casa, sem falta!


A gente não se conhecia. Quer dizer, ela não sabia da minha existência. Mas não havia como não notar uma mulher como aquela. Não saberia por onde começar a descrever tamanha beleza. Sem dúvida, a foto dela poderia ilustrar no dicionário a palavra “mulherão”. Difícil identificar exatamente o que a fazia tão diferente. Era o tal do sex appeal. Ou melhor, o “borogodó”.
Muitas e muitas vezes, nos intervalos das filmagens, dividimos o mesmo balcão do Café que ficava entre os nossos estúdios. Eu não era ainda muito conhecido. Um ator de segundo escalão. Ela também não era famosa como se tornou pouco tempo depois. 

Numa dessas tardes, eu ali distraído, como sempre lendo um livro e ela se senta ao meu lado. Parecia um pouco agitada. Logo se levantou. E esbarrou em mim. Derrubando todo o café que eu tomava em minha camisa. Ela ficou completamente sem jeito. Pediu mil desculpas. Parecia um tanto atrapalhada. Diferente da imagem que eu tinha até então.
Nunca uma camisa manchada fora tão abençoada!
Ela chegou até a se oferecer pra limpar. Trocamos mais algumas palavras. Ela tentando se explicar. Duas ou três frases, que eu não posso me lembrar, e ela se foi como um furacão. Mais uma vez se desculpando. É, não consigo mesmo me lembrar do que falamos. Seria exigir demais de mim. Eu estava impactado. Encantado.

Naquela semana eu não a vi mais. Mas pra minha surpresa e alegria nos encontramos de novo. Cheguei ao Café e ela já estava lá. Linda. Não pude deixar de pensar, inseguro, será que ela vai se lembrar de mim? Vamos arriscar. E lá fui eu. Parei ao lado dela e ela parecia feliz em me ver. Pediu desculpas pelo outro dia e disse que tinha um presente pra mim. Me entregou uma caixa. Agora era a minha vez de ficar sem jeito. Não sabia o que dizer. Abri a caixa. Era uma camisa. Branca como aquela da mancha. Ela estava mais uma vez se desculpando. Espero que tenha acertado o seu número, ela me disse olhando bem nos meus olhos. E ela acertou mesmo. Era o meu número. Bom, quebramos o gelo. Eu a convidei para sentarmos numa mesa. E quando me dei conta já estávamos ali há algumas horas. Falamos. Falamos. E não conseguíamos parar. Foi uma sintonia imediata. Falamos das dificuldades da carreira, de família e amigos em comum. Não poderia imaginar que ela gostasse de ler – ou que, pelo menos, gostasse tanto de ler! Muitas e muitas histórias em comum. Gostos parecidos. Foi uma conversa deliciosa. A minha admiração só aumentou. Além de belíssima ela era uma garota muito inteligente. Apaixonante.

Nos prometemos que aquela conversa aconteceria mais vezes. Infelizmente, terminei as filmagens naquele estúdio e já não conseguia mais aquele tempo para passar pelo Café. Mas um dia, ao acaso, nos cruzamos no centro da cidade. E o clima daquele outro dia, ainda estava presente. E fiquei sabendo que ela estaria sempre por ali naquele horário. Pelo menos enquanto durasse o curso de interpretação que ela estava fazendo. Parecia tão dedicada. Empenhada em aprender mais. Não se considerava uma boa atriz. Nesse aspecto era bastante insegura. O que realmente não combinava com aquela mulher tão exuberante. Bom, inventei alguma coisa e disse que também passava por ali com frequência. E sugeri, numa brincadeira, que nos encontrássemos pelo menos por 30 segundos. Tempo suficiente para um abraço e um olá. Que não atrapalharia ninguém. Ela achou incrível.
E nos encontramos muitos e muitos 30 segundos. Geralmente só pra dizer o quanto era bom nos encontrarmos nem que fosse por 30 segundos. Era o nosso tempo possível.

Um dia, criei coragem e a convidei pra tomar uma bebida no meu apartamento. Ela aceitou! Juro, tentei não criar nenhuma expectativa. Mas era impossível. Bom, eu não faria nada que ela não quisesse. Isso estava claro pra mim. Não queria correr o risco de perder o que conquistamos em nossos pequenos momentos.

Era uma terça-feira. Eu ali dando uma geral em tudo. Afinal, quando se é solteiro a organização da casa não é exatamente uma prioridade. Mas queria passar uma boa impressão. Coloquei um jazz pra tocar enquanto esperava ansioso. Ela não demorou muito. Primeiro mostrei o apartamento. Servi uma bebida e sentamos pra conversar. Pra variar. Até então, o nosso forte era só a conversa. Confesso que eu estava um tanto desconcertado. Era uma conversa diferente. A gente estava completamente a sós pela primeira vez. Num determinado momento, enquanto falava, ela tocou na minha mão. Nossa! Eu não era o que se pode chamar de um homem inexperiente. Tinha os meus encantos e confiava no meu poder de sedução. Mas eu é que estava seduzido. Em um determinado momento, ela parou e ficou só me olhando. Deu um sorriso. Ah, aquele sorriso. Me desarmava completamente. E perguntou se podia me confessar uma coisa. E eu podia recusar? Pelo amor de Deus.

Ela disse que eu era o primeiro homem que realmente havia conversado com ela. E que ela ainda estava um pouco confusa. Porque normalmente eles queriam levá-la para cama nos primeiros 15 minutos de papo. E isso era bom e ruim. Porque ela estava completamente apaixonada por mim, mas não tinha certeza se eu a desejava também. Afinal, mesmo querendo muito, eu nunca tentei nada. Que tolo eu fui. Depois daquela declaração tão sincera eu só pude beijá-la. Era a minha resposta. Difícil acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Ela ali, ao alcance da minha boca, das minhas mãos. Me entreguei de corpo e alma. Não acho necessário descrever aquela noite de amor. Só quero dizer que superou qualquer tipo de fantasia que eu tenha tido. Foi incrível. Intenso. Inteiro.

E, sem combinarmos muito, as terças-feiras passaram a ser nossas. Mas eram as tardes de terças-feiras. Ela parecia muito à vontade. Feliz. Eu também estava feliz. Era interessante observá-la. Numas horas tão mulher e em outras tão menina. Frágil. Ingênua. Divertida. Andava pela casa vestida com a minha camisa. Curiosa por tudo. Parecia uma garotinha. Mexia nos meus discos. Folheava os meus livros. Bebia do meu whisky. E adorava deitar toda atravessada numa poltrona vermelha que tenho na sala. Passamos muitas horas assim. Sei que podem não acreditar, mas muitas vezes, só conversando. Mesmo. Nunca uma mulher foi tão transparente pra mim. Ela era pura. Doce. Meiga. Mas ao mesmo tempo também era um vulcão em erupção!

Acredito que ninguém a tenha conhecido como eu. Ou, pelo menos, que tenha conhecido esse outro lado. O lado que ninguém via. Aquele que ela não podia mostrar. O que não combinava com o que se esperava da grande diva que ela estava se tornando. Exigiam a mulher superficial. Cuja beleza ofuscava qualquer outro tipo de demonstração. Ela não queria só isso. Queria que a vissem como uma pessoa que apesar de extremamente sexy, atraente e bela, também pensava. E como pensava aquela menina!

Essa nossa “relação” não chegou a ser um namoro. A gente viveu. Sem cobranças. Respeitando-nos dentro de nossas limitações. E, sem que nada houvesse sido dito, havia um pacto. Independente de todo o resto, a gente nunca iria perder o que conquistamos, o que existia entre nós. Que a gente nem conseguia nominar direito. Seria amor? Amizade? Paixão? Acho que passamos por tudo isso! De alguma forma a gente se pertencia. Devia ser algum tipo de amor, ainda não classificado.

Passamos por muitas fases. Alguns períodos de afastamento. Mas, não durava muito. A gente sempre se achava de novo. No meio disso tudo eu até cheguei a me casar! Ela tentou mas, pelo que conheci dela, não conseguiu se entregar de verdade. Queria ser mãe. Ninguém deu isso a ela. Eu, que poderia realizar esse sonho, não era fértil. Ela arrastou essa frustração por toda sua breve vida.
Perdê-la de forma tão banal foi muito duro. Até hoje não superei a falta que ela faz em minha vida. Ficou um buraco. A vida ficou menos colorida. Sem aquele brilho que só ela era capaz de me proporcionar. Sem fazer nenhum esforço. Por muito tempo me culpei. Senti que falhei como amigo. Não estava ao lado dela naquele momento de extremo desespero. Imagino a sua dor. Não consigo julgá-la. Ainda não sei se foi um ato de covardia ou de muita coragem.
O tempo vai nos transformando e transformando nossos sentimentos. Dói um pouco menos (mas, nunca para de doer). E pensar, lembrar de tudo que compartilhamos, ainda me faz feliz. Ah, como eu queria te ter aqui. Ao alcance do meu abraço.

Para a diva incompreendida. Minha eterna e doce amiga, Norma "Marylin Monroe" Jean.